sexta-feira, 26 de junho de 2009

TEATRO Parte 5

BERTOLD BRECHT

- A palavra teatro define tanto o prédio onde podem se apresentar várias formas de artes quanto uma determinada forma de arte.
O vocábulo grego Théatron estabelece o lugar físico do espectador, "lugar onde se vai para ver". Entretanto o teatro também é o lugar onde acontece o drama frente à audiência, complemento real e imaginário que acontece no local de representação. Ele surgiu na Grécia antiga, no século IV a.C..
Toda reflexão que tenha o drama como objeto precisa se apoiar numa tríade: quem vê, o que se vê, e o imaginado. O teatro é um fenômeno que existe nos espaços do presente e do imaginário, e nos tempos individuais e coletivos que se formam neste espaço.
O teatro é uma arte em que um ator, ou conjunto de atores, interpreta uma história ou atividades, com auxílio de dramaturgos, diretores e técnicos, que têm como objetivo apresentar uma situação e despertar sentimentos na audiência.
As artes cênicas chegaram ao Brasil junto com os primeiros portugueses. Tão logo começou a colonização, o teatro passou a ser uma forma de catequizar e doutrinar os índios. Da produção jesuítica, pouco chegou até nós. Sabe-se o nome de alguns autores teatrais do período, mas quase não há textos originais.
Com a proclamação da independência, o teatro e a literatura em geral assumiram a função de formar a consciência e a identidade nacionais. Era preciso construir uma nação e o teatro tinha um papel estratégico nesse sentido, pois durante o século XIX, foi um dos principais centros de convergência e sociabilização nas grandes cidades brasileiras. Por isso, autores canônicos da literatura brasileira – como Machado de Assis, José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo e Gonçalves Dias – aderiram à essa tarefa, deixando-nos textos teatrais, embora pouca gente conheça, hoje, sua produção.
A primeira grande companhia brasileira foi a de João Caetano, formada em 1833. A partir de então, abriu-se caminho para o surgimento dos grandes atores e o culto à personalidade. Nas primeiras décadas do século XX, as pessoas iam ao teatro só para ver, em cena, atores como Procópio Ferreira, Gastão Tojeiro, Leopoldo Fróes. Cada um desses atores tinha seus próprios dramaturgos, que escreviam textos, cujos protagonistas eram personagens talhados para seu tipo.
A montagem de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, dirigida por Ziembinski e encenada pelo grupo Os Comediantes, em 1943, foi um marco no teatro brasileiro. O naturalismo da interpretação, os cenários de Santa Rosa, a narrativa em três planos causaram espanto no público e inseriram, definitivamente, o teatro brasileiro na modernidade.
As décadas seguintes consolidam a nova forma de fazer teatro, decorrente do Método Stanislávski, que fez aparecer uma quarta parede invisível, separando palco e público. Surge o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e o Teatro de Arena, companhias responsáveis pela formação de gerações de atores nacionais.
Nos anos 60, o teatro vive um momento de engajamento político com o Teatro Oficina, o Centro de Cultura Popular (CPC) da Une e o Grupo Opinião. Até o governo militar entrar na linha dura e os direitos civis dos cidadãos serem ameaçados, a classe artística teve um momento próspero de discussão e mobilização social.
Os anos 80 e 90 são de grande experimentalismo na área teatral e do surgimento da figura do diretor, como um co-autor da peça. A exemplo da direção no cinema, o diretor de teatro deixa de ser um encenador e passa a assinar a obra. Hoje, uma das informações principais para o público de teatro assistir a uma peça é quem dirigiu a montagem.
Percebe-se, portanto, a importância do teatro na história do país não apenas como manifestação cultural, mas, também, como meio para construção da identidade nacional e/ou forma de resistência ao status quo.
Apesar de o setor ser um dos mais organizados do país na área de cultura e já existirem textos, livros, antologias, arquivos de fotos e histórias do teatro, essas informações estão dispersas e nem sempre são de fácil acesso.

Teatro Moderno
Arte e Cultura
Como já foi citado anteriormente, o Modernismo abalou as estruturas dos dramaturgos românticos e realistas. No Brasil, a Semana de Arte Moderna (1922) foi duramente criticada por grandes nomes da arte Realista como Machado de Assis e Monteiro Lobato. Machado chegou a afirmar que os modernistas eram formados por uma “paulicéia desvairada”. Já Lobato pôde rever seus conceitos para ingressar posteriormente para o quadro de autores modernistas.

Alfred Jarry (1873 – 1907), autor do clássico Ubu Rei foi um dos principais críticos da estética dramática tradicional que romperam com o Realismo, propondo uma revolução artística. Houve muita discussão em torno das concepções modernistas, que visavam estender a arte para toda a sociedade, rejeitando a arte elitista, pois, para os modernistas, a arte era o componente orgânico de coesão social, que despertava interesse no ser humano, promovendo educação e divulgando a cultura de um país. Como a cultura é a representação dos hábitos e costumes de toda a sociedade, nada mais natural do que compartilhar as conseqüências benéficas da arte com todas as pessoas dentro do estado, indiferentemente de classes sociais.

Com ideais inovadores, os textos Modernos buscaram dar mais veracidade às situações, viabilizando o contato maior com o público, principalmente por causa da verossimilhança das ações dos personagens em relação à sociedade. Não havia mais uma personificação da perfeição trabalhada no realismo, tampouco a visão romanceada dos personagens e sim a deflagração do homem imperfeito, ambíguo, com defeitos e qualidades diversas. Dessa busca incessante pela compreensão dos sentimentos humanos, nasceu o Surrealismo, o Dadaísmo e o Abstracionismo, que culminaram nas maneiras subjetivas de representarem o homem e seu mundo, os pensamentos e as “coisas” inanimadas que cercam os seres humanos, afrontando a razão e colocando-a subordinada à emoção.
Foi no fim da década de vinte que começaram a surgir peças teatrais modernas no Brasil, com peças de Oswald de Andrade e Álvaro Moreyra. Porém, foi com Nelson Rodrigues que o modernismo fincou forte suas raízes na dramaturgia brasileira. Apesar da Semana de Arte Moderna ter sido arquitetada sobre o palco do Teatro Municipal de São Paulo, o teatro brasileiro não havia ainda explorado decentemente o gênero, de forma que, ao público, eram apresentados espetáculos cujos temas desgastavam-se cada vez mais com o passar dos anos. Nelson Rodrigues, em sua excepcional obra Vestido de Noiva, utilizou-se de nova linguagem, abolindo a narrativa realista, cuja estética era de textos com começo, meio e fim, para contar a história de maneira entrecortada e difusa, onde aos poucos é que o espectador vai compreendendo o contexto. Assim, o autor concatena, em três momentos diferentes, três formas de abordagem distintas, que, primeiramente apresenta à fantasia da personagem, para depois mostrar o que aconteceu em seu passado e finalmente o que acontece em seu presente, num contexto todo fragmentado com passagens que falam por si próprias – uma jóia da literatura e dramaturgia nacional!

Apesar do modernismo antagonizar com o naturalismo, tem quem pense que foi nesse gênero que Nelson Rodrigues foi buscar os detalhes que chocam tanto os que assistem suas peças. Vestido de Noiva é uma obra prima pois, apesar de ser uma obra moderna, possui, em momentos destacados, fortes características expressionistas e realistas. Um outro autor modernista que utilizou-se de expressões extremadas em seus textos, abordando um cotidiano insano, com uma forte crítica à sociedade brasileira, foi o célebre Plínio Marcos, autor de, entre outros clássicos, Dois Perdidos Numa Noite Suja, peça que, em dois atos, aponta os problemas sociais latentes em São Paulo, contando a história de dois homens muito pobres que trabalham e moram juntos, que convivem na base da disputa de status, o que culmina na briga dos dois e na morte de um deles. Assim como Nelson Rodrigues, Plínio Marcos foi buscar no Naturalismo seu contexto chocante, sua visão pessimista a respeito do que assunta em suas peças teatrais, o que muitos condenam, erroneamente como “mau gosto”. Nelson Rodrigues foi duramente criticado por apresentar temas proibidos e imorais, por quebrar tabus e abordar assuntos como sexualidade, lenocínio, adultério, etc., mas o que se passa nas entrelinhas de peças teatrais como Engraçadinha e Bonitinha, Mas Ordinária, é um grito em favor da moralidade, uma deflagração da imoralidade humana em prol da conscientização da sociedade. O Teatro Moderno ganha importância nesse aspecto, por expor assuntos polêmicos de maneira aberta, profunda, democrática e com a riqueza de detalhes que permitem o espectador criticar, debater, pensar nas próprias atitudes e posicionar-se diante daquilo que participa e vê.

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